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FORMAÇÃO DE ATLETAS x CAPTAÇÃO
FORMAÇÃO DE ATLETAS x CAPTAÇÃO

“O bom futebol existe e a matéria-prima são os jogadores”
Jorge Valdano
Messi - Cat. Base
 
Obviamente a captação de atletas é a primeira fase do processo de formação de atletas. Não há “produção” sem matéria prima, portanto, não há Treinamento em Longo Prazo (TLP) e desenvolvimento de potencial/talento esportivo, se não existe um processo de seleção e captação dos indivíduos que participarão deste processo.

A captação de atletas nada mais é que a busca pelo indivíduo, o mais cedo possível em sua idade cronológica,  que possua o maior/melhor potencial esportivo, pré-requisitos esportivo e/ou aptidão esportiva para, ao ser influenciado diretamente pelo processo de Treinamento em Longo Prazo (TLP), reunir condições para obter o rendimento esportivo necessário para competir em altíssimo nível e satisfazer as necessidades do clube esportivamente (e financeiramente).
 
Simplificando: É a constante e intensa busca pelo “talento esportivo”, que (teoricamente) será trabalhando nas categorias de base do clube (de preferência ganhando campeonatos e sendo destaque) para quando tiver condições de competir na categoria profissional (ou adulta), possa ser capaz de trazer resultados esportivos e ser vendido para um clube maior aumentando a renda do clube.
 
Não faltam crianças e adolescentes que tenham motivação não só para prática esportiva mas principalmente para seguir uma carreira esportiva, a questão é que nem todo indivíduo possui aptidão para realizar as tarefas necessárias e desenvolver-se a ponto de ser capaz de responder às exigências do esporte de alto rendimento.
 
A definição e explicação do que é o talento esportivo é alvo de estudos de várias áreas e possui diversas definições e contestações. Existem inúmeras publicações que abordam o tema de maneira aprofundada, mas ainda não há um consenso sobre o tema e encontramos algumas diferenças nas definições e nas explicações do por que um indivíduo seja mais talentoso que o outro.
 
Um dos estudos que foram utilizados como base para a elaboração deste artigo é a tese de doutorado do Prof. Dr. Próspero Brum Paoli, coordenador técnico-científico do Centro Esportivo Ubaense e docente da Univ. Federal de Viçosa-MG onde foi meu professor durante a Pós-graduação em Futebol. Sua tese é intitulada “Os Estilos de Futebol e os Processos de Seleção e Detecção de Talentos.” e aborda o talento esportivo, especificamente em como é feito o processo de escolha e desenvolvimento dos jovens que fazem parte das categorias de base dos grandes clubes brasileiros. Indico a leitura da tese, pois o alto nível de discussão a respeito do tema e a abordagem da realidade brasileira são conhecimentos importantes para os profissionais das categorias de base, independente da grandeza do clube em que se trabalha.
 
Apesar de ainda não ser possível ter um prognóstico exato de talento esportivo, existem algumas definições em que acredito e que talvez sejam mais adequadas a realidade do futebol:
“Talento esportivo, no sentido amplo do termo, é a denominação dada a uma pessoa, que em determinada fase de desenvolvimento (...) mostra determinados pressupostos com condições corporais e psicológicas, as quais com grande probabilidade podem levar posteriormente a um alto desempenho esportivo.” (GABLER & RUOFF, 1979)
 
“(..) pode-se definir jogador talentoso como o atleta que possui habilidades motoras, técnicas, físicas, intelectuais e emocionais, acima da média de um determinado grupo, sendo identificado por meio de uma já desenvolvida aptidão demonstrada e formada num ambiente esportivo específico, considerando as condições que são oferecidas pelo meio.” (PAOLI, 2007)
 
Além das citações anteriores, gosto muito da proposta de Martin et Al (1999), onde o Talento esportivo (T) fosse o resultado individual de um processo dependente das relações temporais existentes (R) entre as disposições genéticas (dG), a idade relacionada com a fase do seu desenvolvimento (iD), as exigências de desempenho esportivo no treinamento (dT), assim como de qualidades psicológicas (qP), as quais  são verificadas através de uma aptidão individual acima da média, determinadas através de tarefas esportivo-motoras específicas como os testes de aptidão e o rendimento em competições (T = R (dG,iD, Dt, qP)).
 
Nota-se que ao falar de disposições genéticas não nos referimos a nenhum “milagre genético”, mas sim a pré-disposição biológica para o “absorção” e desenvolvimento das capacidades físicas gerais (força, agilidade, velocidade, resistência, flexibilidade, equilíbrio e coordenação) e habilidades técnico-táticas específicas havendo os estímulos necessários no período (maturacional) ideal. Portanto, o talento NÃO é algo que decorre exclusivamente e fundamentalmente do potencial genético herdado.
 
As idéias de Garganta (2004, 2006) corroboram com estes pensamentos ao sustentar o “talento” possibilita e potencia a aprendizagem, mas não pode substituí-la, pois não é suficiente nascer com talento, é imprescindível treinar.
 
Apesar de ser a menos “científica”, talvez a mais interessante reflexão sobre o talento, altamente fidedigna a falta de aprofundamento científico no assunto, é a de Araújo (2004): “TALENTO É UM CONCEITO QUE TEM SERVIDO PARA JUSTIFICAR TUDO O QUE NÃO SE SABE EXPLICAR E QUE TEM QUE VER COM O BOM DESEMPENHO DOS PRATICANTES”
 
 
Messi en la masia
 
SELEÇÃO no processo de captação nas categorias de base nada mais é do que a identificação das crianças e adolescentes que apresentam níveis iniciais (pré-disposição esportiva) satisfatórios para o ingresso no clube e dentro de um Treinamento em Longo PrazoHahn(1989), citado por Paoli (2007) em sua tese, enumera alguns fatores que influenciam o bom desempenho esportivo e que podem servir como bons referenciais no processo de captação de atletas, devendo ser utilizado de acordo com a necessidade e a filosofia do clube:
1- Requisitos antropométricos (tamanho do corpo, peso, proporções);
2- Características físicas (resistência aeróbia e anaeróbia, força máxima e rápida, velocidade de ação e reação, flexibilidade);
3- Requisitos técnicos motores (capacidades coordenativas e os fundamentos técnicos específicos);
4- Capacidade de aprendizagem (capacidade de compreensão, observação e análise);
5- Prontidão para o desempenho (prontidão para o esforço, disciplina, aplicação ao treinamento, tolerância a frustrações);
6- Capacidades cognitivas (concentração, inteligência motora, criatividade, tática);
7- Fatores afetivos (prontidão para competições, severidade e capacidade de controle do estresse durante as competições); e,
8- Fatores sociais (capacidade de assumir um papel/função dentro de um trabalho em equipe, capacidade de trabalho em equipe).
 
Infelizmente, mesmo havendo alguns parâmetros que possam auxiliar o processo de seleção, ele continua sendo extremamente subjetivo e normalmente desprovido de qualquer fundamento científico objetivo (apesar de existir alguns métodos). É um processo empírico, onde o principal instrumento é a capacidade perceptiva do “olheiro” que observa o indivíduo, não havendo portanto, um critério ou protocolo único e definido para este processo, sendo muito influenciada pelo pensamento e definição própria de futebol do avaliador. Este tipo de seleção é definida como uma “seleção natural”, pela velocidade e subjetividade que o “olheiro” consegue um veredicto a respeito do potencial do atleta e sua aprovação ou não.
 
Este método de seleção natural, tem como principal deficiência (entre tantas outras) o fato de que normalmente são selecionados os jogadores de grande destaque nas “peneiras”/testes e competições, e isso não significa necessariamente que estes atletas realmente sejam os melhores potenciais que participaram das partidas observadas. Estes atletas podem possuir, por exemplo, o genótipo de estrutura física avantajada e/ou o estado maturacional avançado para a idade dos outros atletas, se destacando por serem mais altos, fortes, ágeis e rápidos. Enquanto o atleta com o verdadeiro potencial específico do futebol, o verdadeiro talento, não conseguiu mostrar sua capacidade técnica-tática específica (que considero o principal fator de seleção), pois não possui estrutura física para suportar a partida e se sobressair sobre os mais maturados.
 
A falta de objetividade na detecção e seleção, talvez seja o principal motivo de termos diversos casos de atletas que foram selecionados em alguma categoria dos clubes de futebol por serem destaque em peneiras e campeonatos, mas no decorrer do processo de desenvolvimento por já estarem em um estado maturacional avançado, têm o rendimento esportivo alcançados e ultrapassados por outros atletas que não tinham tanto destaque, sendo inclusive dispensados pelo clube. Da mesma maneira, muitos atletas são dispensados de grandes clubes em alguma categoria, por não renderem esportivamente (não só fisicamente) e depois de alguns anos "surgem" em algum outro clube que lhe deu a oportunidade e os estímulos necessários para seu desenvolvimento, tornando-se destaque.
 
Podemos citar Elias (Atlético de Madrid), Bruno César (Corinthians), Emerson “Sheik” (Fluminense), Rafinha (Genoa) e Naldo (Werder Bremem) como exemplos de atletas de destaque que foram dispensados de clubes durante as categorias de base e mesmo assim, recebendo oportunidade e os estímulos necessários, conseguiram se desenvolver, resultando em jogadores de destaque. Esses são apenas alguns exemplos comprovados de tantos outros, sem citar ainda tantos outros atletas que antes de receberem a oportunidade em algum clube, foram reprovados em diversas peneiras e avaliações, que considero um erro específico da captação e um equivoco tão grande quanto.
 
Apesar de falhas no processo, é inegável que temos diversos “olheiros” de grande qualidade no Brasil, como Ticão, Zequinha e Juarez Fischer, que mesmo com estas falhas (isso é indiscutível) possuem, por meio de uma grande experiência no futebol, a capacidade de detectar o potencial em atletas. Este profissional não pode ser ignorado e ainda mais, deve receber capacitação, para ampliar ainda mais o embasamento na hora de decidir sobre o potencial de um atleta. Conhecimento em Crescimento e Desenvolvimento humanos, fisiologia, biomecânica, psicologia e pedagogia do esporte com certeza seriam de grande utilidade para estes profissionais.
 
 
messi
 
 
Afinal, a captação sendo a primeira e importantíssima etapa das categorias de base, o que pode ser feito para melhorá-la? Não tenho pretensão de saber a resposta desta pergunta, isto depende da filosofia de trabalho e das condições do clube, mas creio que não há resposta mais apropriada atualmente do que mesclar o subjetivo (seleção natural) com o objetivo (avaliação científica), somado ainda a uma organização administrativa (rede de contatos para captação).
 
No aspecto organizacional, como já falei anteriormente, penso que que cada clube deve definir sua filosofia própria que delineia todas ações do clube. Esta filosofia deve influenciar inclusive o processo de captação de atletas para as categorias de base, definindo o perfil de atleta o clube quer formar (de acordo com as necessidades atuais do futebol e o perfil histórico do clube). O Barcelona é um grande exemplo de clube onde isso funciona inclusive na captação. Xavi e Iniesta já afirmaram diversas vezes que dificilmente seriam aprovados em qualquer outro clube do mundo em razão da baixa estatura e pequena estrutura física, mas o Barcelona acredita no potencial e qualidade técnico-tático pois de “La Masia”, sua categoria de base, saem inúmeros baixinhos de grande qualidade técnica.
 
Ainda administrativamente, com certeza deve haver um Departamento de Captação, composto pelo coordenador e os principais olheiros do clube. Este departamento deve possuir uma rede de contatos de confiança (com experiência de boas indicações para o clube) espalhados pelo Brasil que, de acordo com a filosofia do clube e a necessidades específica de cada categoria, faz a primeira triagem e, pré-seleciona (1a etapa “A”) atletas para serem avaliados pelos olheiros do clube(1a etapa “B”), ou até mesmo sendo avaliados dentro do próprio clube (2a etapa).
 
Além disso, os olheiros realizam a mesma função que é feita atualmente. Viajam para os mais variados locais, observando jogos e torneios, além de acompanhar os treinamentos do próprio clube (em busca de deficiência de atletas), dos centros de formação e escolinhas de atletas (podendo ser “filial” do clube ou não) na busca de um novo atleta que esteja mais próximo do clube.
 
Na avaliação dentro do clube (2a etapa), pelos recursos que possam ser disponibilizados e pelo tempo maior para avaliação, é a etapa onde pode-se inserir os recursos objetivos existentes. A avaliação técnico-tática subjetiva por parte dos olheiros, do coordenador de captação, coordenador das categorias de base e dos treinadores ainda é parte importante no processo, mas deve-se buscar métodos que possam ajudar nesta avaliação técnica-tática.
 
As pesquisas em ciências em esporte são intensas e com o passar do tempo imagina-se que deva aumentar a oferta de opções para avaliação do aspecto técnico-tático. Um método que pode auxiliar atualmente este processo é o teste GR 3 X 3 GR apresentado na tese de doutoramento do Prof. Dr. Israel Teoldo (UFV-MG), onde por meio de filmagem de um mini-jogo é possível analisar o comportamento tático do atleta, sendo portanto uma forma útil e altamente específica na avaliação para aprovação de atletas e no controle dos atletas que já fazem parte do clube (tópico que abordarei em artigos posteriores).
 
 
Mesmo pensando que a componente técnico-tática é a mais importante na captação de atletas, também concordo que deva-se avaliar a componente física. Principalmente para saber em que estágio e condição física o atleta está e prever (fisicamente) onde ele pode chegar (altura e composição corporal). Deve-se buscar os métodos que possam embasar o máximo a questão do potencial do atleta, e avaliações físicas e maturacionais seriam muito úteis para essa previsão da componente física.
 
messi melhor do mundo
 
Creio que quanto maior o número de fatores que embasam a aprovação ou a dispensa de um indivíduo que passa por avaliação para o ingresso no processo de formação, menos será a probabilidade de erros. Mesmo sabendo da velocidade e dinâmica que o futebol necessita, e as categorias de base não fogem disso, deve-se buscar uma maior objetividade e qualidade dos métodos de avaliação, fomentando que a capacidade de observação dos olheiros são importantíssimas e necessárias, mas podem ser mais eficientes se forem auxiliadas por outros meios de avaliação (já existentes e que ainda estão por vir).
 
Portanto, os clubes e os gestores destes clubes devem estar abertos para testarem e incorporarem no processo de captação (assim como nas outras etapas de formação) todo e qualquer meio que possa auxiliar, melhorar e embasar as decisões dentro do futebol. As ciências do esporte estão disponíveis e com mais facilidade de acesso do que se imagina, só é necessário que os profissionais do esporte se mantenham atualizados e os gestores dos clubes (de todos os esportes) estejam predispostos ao novo!
 
Talvez um grande exemplo de profissional que executa um bom trabalho na área de captação de atletas seja o Prof. Klauss Câmara, que tem passagens por Figueirense, Atlético-PR e atualmente está no Cruzeiro. É um profissional que é considerado uma das grandes referências como coordenador de captação de atletas no Brasil. Apesar de não ainda conhecê-lo pessoalmente, sempre se tem informações muito positivas sobre seus trabalhos, como as que obtidas durante as aulas da pós-graduação com o Prof. Ricardo Drubscky, que abordou a forma de captação de atletas do Atlético-PR, instituida pelo Prof. Klauss.
 
Klauss Câmara é um profissional que mostrou competência administrativa e esportiva específica para atuar nesta função, onde juntamente com outros profissionais que trabalham junto a ele, filtra, seleciona e dinamiza os processo de captação para as equipes que trabalha, sempre levando o know how adquirido ao longo dos anos, tanto pela experiência e conhecimento, como pelos contatos de olheiros e centros de formação de qualidade. Aproveitando a subjetividade (e fragilidade) do processo, mostrou competência para realizá-lo de uma forma melhor.
 
 
Que a Captação (Detecção e Seleção) de Talentos é uma etapa extremamente importante na formação de atletas, eu não tenho dúvidas. Por isso tentei abordar de forma simples e objetiva o assunto, deixando claro que há muito mais conhecimento sobre o assunto a ser estudado e aprofundado. Mas, pelas definições que acredito (e citei algumas ao longo do texto), pela experiência prática pessoal e absorvida de diversos colegas e ótimos professores que tive durante minha vida acadêmica, tenho total convicção que o trabalho de formação, ao invés de ser focado na captação de atletas (como infelizmente é em diversos lugares), deve(ria) ser baseado na segunda etapa do processo de formação: O desenvolvimento do talento/potencial esportivo.
 
No trabalho de desenvolvimento, onde deve-se focar o máximo possível na promoção de estímulos ideais para cada fase maturacional, para que o potencial (ou talento) dos atletas selecionados durante a captação possam se desenvolver a ponto de ser capaz de suportar as exigências necessárias para um rendimento ótimo na categoria profissional. E é este é o assunto que abordaremos no próximo texto, o DESENVOLVIMENTO DO TALENTO ESPORTIVO, fase onde nós, profissionais das ciências do esporte, temos total responsabilidade de coordenar e gerenciar este processo, influenciando cada vez mais os rumos esportivos dos indivíduos que trabalhamos!
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